As Armas e os Barões Assinalados

Como vives dentro de mim...
Vez ou outra vens ao meu encontro ...
Não com os braços abertos,

mas com os punhos cerrados ...
Cerrados também trazes teus olhos e o coração.
Parece entrega, mas não.

É tomada.
Para ti, estes passos na minha direção são apenas mais uma das tuas tranqüilas caminhadas.

Andarilho, que és.
Inclusive, julgas saber qual é o teu caminho certo e o destino que te espera.
Bobo, que és!
Paira, num tom de certeza manchado pela dúvida,
que não é na minha direção que vens,

apenas passas por mim!
Me acenas! Longe!
E eu, transbordando todos os sentimentos
corro nos saltos, aos pulos, para os teus braços
na tua simples menção de vir ...
nesse teu "será?", no teu "porque não?" ...
Nos teus infinitos “o que é, o que são?”

Cerco-me no teu abraço que, de tão apertado, parece não me caber...
Por que não é abraço? Me digas, não é?
São apenas teus braços cruzados sobre mim?
Talvez não seja meu espaço.
Talvez não tenha espaço!
Muito menos meu.
Contudo, minha insistência impertinente,
meu sonho reinante de dupla pertença,
me coloca nos teus braços como se lá eu residisse,
nos teus abraços-cruzados.
E lá, faço meu domicílio certo, eterno e antigo.

Apenas por meus olhos é que te suplico,
naquela voz infantil que conheces tão bem e até imitas,
por eles reivindico terras inexistentes, espaços imaginários.
Porém, quando ali estou, fechada entre as duas paredes dos teus braços,

eu sinto teu calor, teu cheiro ... Tua barba por fazer...
Que na verdade está feita, que não é desleixo,
que é puro cuidado com meu rosto,
pois então, meu caro,
achavas que poderia eu deixar de percebê-lo?
Qualquer cuidado para mim é exagero.

Juro pra mim que talvez esteja sentindo demais

e me afogando em meus próprios sentimentos.
Me revolto. Berro. Grito.
Sinto teus rumores, teus gemidos ....

teu mau gênio.
Daí, arredio que te tornas, ou és, ou queres ser, nem sei ao certo ...
me retiras com força do teu lado...
Retirante, fico!
Por vezes, penso não ser mais capaz de suportar,
seja a tua ausência ou a tua presença;
teus esquecimentos ou tuas lembranças;
tua solidão ou tua multidão.
Penso não querer mais nem tua cova rasa,

nem teu abismo.
Boba e infantil, como bem sabes!

Até mesmo o pequenino grão de açúcar

na tua língua,
amarga na minha, quando nossas bocas se beijam...
apenas no começo! Porque depois...
Depois, tal como eu, se derrete, dissolvendo doce e suave
escorrendo pela boca, garganta até no queixo.

Tu sentes, então, ter alcançado teu intento:
meu coração escravizado por paixão aos teus segredos.
Meu coração, que é “Negro de ganho”, que trabalha pra ti
como bem me ensinastes, lembras?
Que tem posses suficientes pra se libertar,

mas que não quer...
Pois, a liberdade do meu coração consiste na escravidão aos teus desejos.

De todas as tuas vontades mais nervosas.
Das singelas, até as absurdas... e sem parar por aí ...

Peço-te então, meu Senhor,
que permitas que me deite ao teu lado,
que cubra teus olhos com lábios
e que faça com meus cabelos cortinas para o espetáculo
que realizas por dentro no meu peito e em meu corpo inteiro ....
Permitas também, que te enlace em minhas pernas, caindo por terra, depois virando mar ao toque dos teus dedos, através de qualquer fração, ou meio, até mesmo num quarto.... escuro e obsceno.

Espero-te sempre, creias,
com olhos rasos e suspiros profundos,
que confundes com cansaço.
Somente depois, rindo muito de mim,
é que atentas para o que verdadeiramente são estes tais suspiros:
são apenas seqüência dos mesmos desejos, que se findam nesta saudade tua.
Bem tua. Só tua.
Nem te compadeces dela, eu sei.
Então, padeço eu dela, desta saudade
e de quanto mais dela me for suportável.

Por fim, olhas dentro dos meus olhos,
dentro de mim, bem dentro,
lá onde repousasse tantas vezes em quase morte.
Só então, e por isto agradeço aos céus,
pareces conseguir ver o que realmente lá existe:
As incontáveis horas que estivemos distantes se acumulando num débito de futuro...

Moço, essa é a nossa única dívida,
A única coisa que te reclamo...
Agiota que sou de minha própria solidão, cobro de ti...
O que chamas de “contratempos”, para mim, é tempo contrário, vento forte a contrario sensu do amor que te sinto ...

by Doidera